Por Clevilson Oliveira
Estava há mais de duas horas
sentado naquela cadeira. Nesse tempo refleti, interpretei, resolvi e marquei. No
início um certo nervosismo tomava conta de mim. A sala gelada do ar
condicionado parecia deixar o ambiente mais calado. Todos sentados em fileira,
compenetrados e os dois professores a observá-los.
Eu já estava quase terminando a
tarefa quando minha vida passa como um flash. Lembrei-me que quando éramos
pequenos, meus cinco irmãos e eu passamos por dificuldades. Na safra do feijão
geralmente não tinha o arroz e, quando chegava a do arroz o feijão acabara. Graças
a Deus a farinha de mandioca nunca faltou. A dificuldade se dava, pois meu pai
era seringueiro e a seringa entrara em decadência. A agricultura, a única opção,
não tinha incentivos, nem estrada para escoar a produção tinha. Meu pai sempre
falava a nós que deveríamos estudar para que aquela situação não se repetisse
também no futuro. Almejávamos um emprego, poderia ser de um salário mínimo. Então
fomos para a cidade, a conhecida no tempo dos seringais como Seringal Pacatuba,
hoje o Município de Plácido de Castro. Lá fui além do ensino fundamental, que
era requisito para ter um “emprego mínimo”, conclui o segundo grau Magistério e
Graduação em Letras.
Após essa fuga da realidade
voltei para a prova de Escrivão da Polícia Federal que eu fazia, num domingo ensolarado. Tive
que acordar às quatro horas da manhã por morar muito longe da capital Rio
Branco, onde acontecia o certame. Ao marcar o gabarito a emoção tomou conta de
mim. Nesse momento percebi que talvez eu nunca passe num concurso desses e, que
a minha trajetória de vida já havia
superado o que eu esperava, pois atualmente tenho dois contratos de professor do
estado, que já fui longe através dos
estudos e que ainda posso ser melhor se for aprovado nesse concurso, mas se eu
não for já estou feliz pelo feito. Espero que esse desafio seja também dos meus
filhos. Hoje eu tenho trinta e quatro anos e no próximo concurso posso não
estar mais com forças de fazer um teste físico pesado, o que é exigido no
concurso e que há alguns anos faz parte do meu sonho.